Pipito
Pediram-me um pequeno
apontamento sobre o Engenheiro Carlos Schwarz, pelo primeiro aniversário da sua
morte, mas temo que, em tão breves palavras não consiga transmitir a sensação
de grandeza que transmitia o nosso querido e saudoso Pepito. Pois, para DEFINIR PEPITO, não escasseiam adjectivos que
reconhecem no seu perfil.
Porque, avaliar e ajuizar a
personalidade de PEPITO, essa ‘sui generis’ pessoa, não é e nem será tarefa
fácil.
Lembro-me de em 1997 ter
partilhado, em Lisboa, da inesgotável energia com que galvanizava a Diáspora a
favor da Junta Militar, ou da sua breve passagem por um cargo ministerial, no
pós conflito armado, durante o qual tentou obter o máximo proveito dos parcos
recursos colocados à sua disposição.
Ainda no âmbito do
privado e já partidário, aflui o rosto do Amigo que, em 2003, entrou em minha
casa e que, com duas palavras (Guiné e Futuro), convenceu-me de imediato e
levou-me pelas suas mãos para o Partido Unido Social Democrata – PUSD. Vejo o
meu mentor na política da terra comum. Vejo quem, com a sua força humana, sua
perseverança, seus ideais, sua sapiência e a sua experiência de homem de Ação e
Resultados, esteve comigo e sempre presente, desde a minha indicação para o
cargo de Ministra de Justiça no Governo do Pacto de 2007, aconselhando e dando
dicas, em todos estes anos e em todas as minhas frentes político-partidárias.
Do apontamento que me
solicitam do percurso político do Engenheiro Carlos Schwarz, surge-me dos dados
recolhidos um quadro preminente do Ministério de Desenvolvimento Rural, nos
primórdios da independência, sabendo-se que foi militante do PAIGC e, por muito
tempo, membro activo da JAAC.
Na origem do PUSD
reconvertido, para além de ter exercido cargo ministerial, Pepito foi também
foi deputado da Nação, tendo-lhe sido aberto um livro para recolha de
assinaturas de condolências aquando do trágico desaparecimento físico.
Indubitavelmente, um
líder. Dava ordens, conferia e quase de imediato avaliava o cumprimento dessas
ordens. Sabia rodear-se de elementos da sua inteira confiança que avaliava em
função da capacidade para cumprir e da prontidão no cumprimento.
Pepito era um trabalhador
inveterado, inesgotável. O trabalho era a sua fonte regeneradora de energia!
Um resoluto adversário
ou, mesmo, inimigo do fatalismo. Não se contentava em identificar problemas mas
sim em implementar soluções mesmo quando se batia com armas desiguais. De uma
tenacidade à prova de TUDO. Quando se diz: Não deixes para amanhã o que podes
fazer hoje, Pepito fazia uma leitura radicalmente diferente: não podes deixar
para amanhã o que tens de fazer hoje. Essa foi a marca PEPITO!
Pepito soube sempre e com
muito sucesso levar a sua nau a bom porto. Um facto que, por irrefutável,
granjeou-lhe muitos admiradores e, também, obviamente, aguerridos
adversários.
A sua ligação à terra-mãe
e suas gentes foi uma das características marcantes de sua idiossincrasia, afirmando-se
como um dos mais fervorosos defensores e impulsionadores de medidas dirigidas
ao favorecimento e desenvolvimento do meio rural como sendo a forma mais eficaz
de assegurar, a médio e longo prazos, a almejada auto-suficiência alimentar.
Sempre ao lado do seu
povo, servindo de tribuno das suas mais profundas aspirações.
Nada e Ninguém conseguiu
demovê-lo da rota que traçou.
Um homem congregador,
utópico mas, ao mesmo tempo, muito prático.
Um homem que se dava ao
respeito, porque respeitava os outros.
Tal como Cabral, essa é a
verdadeira liderança, aquela que alia, à capacidade e competência para pensar
pela própria cabeça, uma efetiva consistência, em constante interação com a
praxis do quotidiano.
Aguerrido em todas as
arenas que lhe serviram de palco aos seus desafios e inumeráveis confrontações
de vária ordem. Essa provocante irreverência e o crescente sucesso de tudo
quanto esteve sob sua alçada despoletaram os mais variados e ambíguos
sentimentos, fazendo de Pepito uma figura extremamente polémica. Amado pelas
classes populares e pelos mais desfavorecidos da sociedade e muito nomeadamente
no seio dos camponeses, seu terreno de predilecção. Muito mal-amado por alguns
dos mais proeminentes do Poder como também pelos muitos parasitas orbitando
esse Poder. E que não se esqueça aquele dia de Março de 2001 no qual Pepito e
família foram vítimas de uma tentativa de assassinato, conduzida por gente com
equipamento militar. Houve tiroteio na residência familiar…
Pepito foi um Combatente
pela Paz e Progresso do Povo, que fez da sua Pátria – Guiné-Bissau – o palco, o
espaço onde abnegadamente materializou as suas convicções.
Há pessoas que fazem da
vida um sonho. E quando nos apercebemos da existência delas, desaparecem. E tal
como o sonho, são fugazes e efémeras.
Que as gerações futuras
possam apropriar-se de um tal legado!!!
Obrigado, Pepito, o teu
exemplo vive no coração de muitos de nós.
Carmelita Pires