sábado, 21 de fevereiro de 2015

um ano depois de desaparecemento fisico de Carlos Silva PIPITO Carmelita Pires o chama de Homem do futuro



Pipito
Pediram-me um pequeno apontamento sobre o Engenheiro Carlos Schwarz, pelo primeiro aniversário da sua morte, mas temo que, em tão breves palavras não consiga transmitir a sensação de grandeza que transmitia o nosso querido e saudoso Pepito. Pois, para DEFINIR PEPITO, não escasseiam adjectivos que reconhecem no seu perfil.
Porque, avaliar e ajuizar a personalidade de PEPITO, essa ‘sui generis’ pessoa, não é e nem será tarefa fácil.
Lembro-me de em 1997 ter partilhado, em Lisboa, da inesgotável energia com que galvanizava a Diáspora a favor da Junta Militar, ou da sua breve passagem por um cargo ministerial, no pós conflito armado, durante o qual tentou obter o máximo proveito dos parcos recursos colocados à sua disposição.
Ainda no âmbito do privado e já partidário, aflui o rosto do Amigo que, em 2003, entrou em minha casa e que, com duas palavras (Guiné e Futuro), convenceu-me de imediato e levou-me pelas suas mãos para o Partido Unido Social Democrata – PUSD. Vejo o meu mentor na política da terra comum. Vejo quem, com a sua força humana, sua perseverança, seus ideais, sua sapiência e a sua experiência de homem de Ação e Resultados, esteve comigo e sempre presente, desde a minha indicação para o cargo de Ministra de Justiça no Governo do Pacto de 2007, aconselhando e dando dicas, em todos estes anos e em todas as minhas frentes político-partidárias.
Do apontamento que me solicitam do percurso político do Engenheiro Carlos Schwarz, surge-me dos dados recolhidos um quadro preminente do Ministério de Desenvolvimento Rural, nos primórdios da independência, sabendo-se que foi militante do PAIGC e, por muito tempo, membro activo da JAAC.

Na origem do PUSD reconvertido, para além de ter exercido cargo ministerial, Pepito foi também foi deputado da Nação, tendo-lhe sido aberto um livro para recolha de assinaturas de condolências aquando do trágico desaparecimento físico.
Indubitavelmente, um líder. Dava ordens, conferia e quase de imediato avaliava o cumprimento dessas ordens. Sabia rodear-se de elementos da sua inteira confiança que avaliava em função da capacidade para cumprir e da prontidão no cumprimento.
Pepito era um trabalhador inveterado, inesgotável. O trabalho era a sua fonte regeneradora de energia!
Um resoluto adversário ou, mesmo, inimigo do fatalismo. Não se contentava em identificar problemas mas sim em implementar soluções mesmo quando se batia com armas desiguais. De uma tenacidade à prova de TUDO. Quando se diz: Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje, Pepito fazia uma leitura radicalmente diferente: não podes deixar para amanhã o que tens de fazer hoje. Essa foi a marca PEPITO!
Pepito soube sempre e com muito sucesso levar a sua nau a bom porto. Um facto que, por irrefutável, granjeou-lhe muitos admiradores e, também, obviamente, aguerridos adversários. 
A sua ligação à terra-mãe e suas gentes foi uma das características marcantes de sua idiossincrasia, afirmando-se como um dos mais fervorosos defensores e impulsionadores de medidas dirigidas ao favorecimento e desenvolvimento do meio rural como sendo a forma mais eficaz de assegurar, a médio e longo prazos, a almejada auto-suficiência alimentar.
Sempre ao lado do seu povo, servindo de tribuno das suas mais profundas aspirações.
Nada e Ninguém conseguiu demovê-lo da rota que traçou.
Um homem congregador, utópico mas, ao mesmo tempo, muito prático.
Um homem que se dava ao respeito, porque respeitava os outros.
Tal como Cabral, essa é a verdadeira liderança, aquela que alia, à capacidade e competência para pensar pela própria cabeça, uma efetiva consistência, em constante interação com a praxis do quotidiano.
Aguerrido em todas as arenas que lhe serviram de palco aos seus desafios e inumeráveis confrontações de vária ordem. Essa provocante irreverência e o crescente sucesso de tudo quanto esteve sob sua alçada despoletaram os mais variados e ambíguos sentimentos, fazendo de Pepito uma figura extremamente polémica. Amado pelas classes populares e pelos mais desfavorecidos da sociedade e muito nomeadamente no seio dos camponeses, seu terreno de predilecção. Muito mal-amado por alguns dos mais proeminentes do Poder como também pelos muitos parasitas orbitando esse Poder. E que não se esqueça aquele dia de Março de 2001 no qual Pepito e família foram vítimas de uma tentativa de assassinato, conduzida por gente com equipamento militar. Houve tiroteio na residência familiar…
Pepito foi um Combatente pela Paz e Progresso do Povo, que fez da sua Pátria – Guiné-Bissau – o palco, o espaço onde abnegadamente materializou as suas convicções.
Há pessoas que fazem da vida um sonho. E quando nos apercebemos da existência delas, desaparecem. E tal como o sonho, são fugazes e efémeras.
Que as gerações futuras possam apropriar-se de um tal legado!!!
Obrigado, Pepito, o teu exemplo vive no coração de muitos de nós.


Carmelita Pires

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