O economista guineense Paulo Gomes defendeu na terça-feira a definição clara do horizonte para a realização de eleições na Guiné-Bissau, gerida por um Governo de transição desde Abril, escusando-se a confirmar informações que o dão como candidato presidencial.
"O horizonte das eleições deve ser fixado claramente porque não se pode continuar na incerteza em termos de fluxos de financiamento", disse Paulo Gomes em entrevista à agência Lusa, sublinhando a difícil situação económica do país.
A Guiné-Bissau está a ser gerida um governo de transição, na sequência do golpe militar que em Abril de 2012 afastou do poder o Presidente e primeiro-ministro eleitos, Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior.
O Governo deveria conduzir o país a eleições no prazo de um ano, mas Paulo Gomes duvida que seja possível fazer o escrutínio em Abril próximo.
"As eleições devem ser bem preparadas e duvido que uma preparação séria possa ter lugar antes de Abril", considerou.
Paulo Gomes está em Lisboa para promover o I Fórum Económico de Bissau, iniciativa que visa mostrar o potencial económico da Guiné-Bissau a investidores internacionais.
O economista, que foi quadro superior do Banco Mundial e fundou recentemente a Fundação Benten e a Consultora Internacional Constelore, regressou à Guiné-Bissau após 15 anos a residir no estrangeiro e várias vozes veiculam o seu nome como possível candidato presidencial.
"Já fui político, como um dos fundadores do Partido da Convergência Democrática (PCD), portanto haverá sempre especulação sobre as minhas decisões (...). Não tenho nenhum plano neste momento. A minha prioridade é o sucesso do fórum", disse Paulo Gomes.
O economista admite já ter pensado na possibilidade de uma candidatura, mas considera que se trata de "uma decisão importante" que deve ser precedida de uma "consulta alargada" e tomada sem precipitações.
Paulo Gomes, que após o golpe militar de Abril foi convidado a liderar o Governo de transição e cujo nome terá alegadamente sido vetado por Kumba Ialá, líder do Partido da Renovação Social (PRS), confirmou o convite, mas acredita que foram as condições que impôs que o afastaram.
"Foi a terceira vez que fui convidado para primeiro-ministro e era uma questão que considerava mediante algumas condições. Não acredito que tenha sido o Kumba Ialá. Não partilhamos a mesma visão política, mas é um patriota e não tenho elementos que digam que ele vetou a decisão", disse.
Paulo Gomes considera que uma "transição deve ser quase impecável na preparação das bases para as próximas eleições" e por isso impôs condições.
"Era importante poder escolher os membros do Governo porque eles não deviam ter a pretensão de ser candidatos ao que quer que seja e concentrar todos os esforços na transição. As pessoas queriam mais um arco-íris de partidos para gerir a transição, penso que foi um erro [...] mas a escolha foi feita", explicou, adiantando que as suas pretensões políticas serão esclarecidas na devida altura.
Questionado sobre se não temeu ser prejudicado no seu futuro político caso liderasse um Governo de transição, Paulo Gomes garantiu que na altura não pensou nisso.
"O golpe de Estado é uma coisa que não apoio. Tivemos vários e isso não ajuda, mas fiquei sensibilizado por ter sido feito sem violência e por o presidente e o primeiro-ministro terem sido libertados para Lisboa. Houve suficientes pessoas que morreram na Guiné-Bissau e não valia a pena aumentar essa lista", disse.
"Quando fui abordado por várias pessoas para o Governo (...) a minha resposta foi que pelo meu país poderia considerar fazer qualquer coisa, mas via claramente os riscos de percepção em relação a essa decisão", disse.
Sobre a acção do actual Governo de transição liderado pelo primeiro-ministro Rui Duarte Barros, Paulo Gomes adianta que os desafios são muitos.
"Conheço bem o primeiro-ministro, é uma pessoa que trabalha e tem um sentido de interesse da nação, mas vejo como está a lutar com muitos interesses e pessoas que não partilham a mesma forma de fazer as coisas. É um ambiente difícil para ele", sublinhou.